Já assistimos! "Ben-Hur" (2016)
- sitedosgeeks
- 18 de ago. de 2016
- 5 min de leitura

É praticamente impossível falar sobre o remake “Ben-Hur” sem compará-lo com o clássico do cinema lançado em 1959 e que rendeu o recorde de 11 estatuetas do Oscar, consagrando o ator Charlton Herston. E isso é um problema, pois, isoladamente (sem comparações), o filme é interessante e consegue divertir e emocionar, porém quando você assiste ao filme de 59 dirigido pelo William Wyler percebe o quanto de profundidade foi deixada de lado na história.
“Ben-Hur” de 2016 é melhor ou pior do que o lançado em 1959? E a resposta infelizmente é a de que a refilmagem de 2016 não consegue ser melhor do que a do final da década de 50. Digo ‘infelizmente’, porque gostaria mesmo de ter saído do cinema e ter a sensação de ter visto outro grande clássico, porém uma série de fatores impede disso ocorrer. O principal deles éa mudança nos rumos da história. Em 1959, “Ben-Hur” teve mais de 3 horas e 40 minutos para aprofundar a história da vingança e redenção de Judah Ben-Hur e, diga-se de passagem, cada minuto não é desperdiçado. Para facilitar as comparações, irei chamar o filme “Ben-Hur” de 1959 como “original”, apesar de na época ter sido a terceira adaptação do livro de Lew Wallace.
Seria uma ousadia grande o remake manter o tempo total de filme nos dias de hoje; o longa até que é grande em sua duração, mas não consegue trazer profundidade as tramas e nem aos personagens. As atuações são boas e até a relação entre Judah e Messalah é melhor desenvolvida do que o original. A cena inicial com o Messalah acudindo o irmão adotivo após se ferir ilustra bem essa união dos dois. Uma cena bem escolhida, já que mais para frente ela será útil em todo o conflito que os dois terão. Uma única cena do filme de 59 (o primeiro encontro de Judah com Messalah após retornar a Jerusalém) consegue mostrar a relação afetuosa entre os dois personagens; depois disso já entramos nos conflitos que os dois terão por representarem lados opostos.

Para contextualizar, Judah Ben-Hur é um príncipe judeu que vive junto com a sua mãe e irmã em uma Jerusalém tomada pelo império romano na época de Jesus Cristo. Messalah é uma pessoa muito próxima da família e grande amigo/irmão de Judah que acaba se tornando um importante oficial do exército romano. Ele pede ajuda a Ben-Hur para identificar rebeldes que estariam contra o governo romano, mas Ben-Hur se nega a dar os nomes. Um incidente ocorre e Judah e sua família (mãe e irmã) são acusados de traição pelo próprio amigo Messalah. Judah é levado como escravo nas embarcações que estão em guerra e permanece alí por 5 anos, até que consegue retornar a Jerusalém para se vingar do ex-amigo.
Alguns pontos diferenciam o remake do original de 1959. Seja pela direção de Timur Bekmambetov, (responsável pelo irregular “Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros”), ou seja, pelas mudanças realizadas na obra original pela trineta do autor, Carol Wallace, livro esse que recentemente foi publicado pela Editora Gutemberg e inspirou essa nova adaptação de Ben-Hur para os cinemas. Seja um ou outro, o grande fato é que muita coisa foi alterada e isso acaba comprometendo positiva e negativamente a experiência como um todo ao assistir o filme.

O trabalho de fotografia de ambos os filmes é espetacular e a trilha sonora também colaboram com todo o clímax da projeção. Isso é um ponto positivo para essa refilmagem, tendo em vista toda a disposição de recursos e tecnologias que seu antecessor não teve. Ainda assim, mesmo sem a tecnologia de hoje, “Ben-Hur” lá do final da década de 50 é grandioso na composição de suas cenas, na fotografia e nos efeitos especiais.
A clássica cena da corrida de bigas, que são pequenas charretes puxadas por cavalos, é até hoje lembrada como um dos maiores clímax do cinema de todos os tempos. A refilmagem dessa cena foi muito bem dirigida e, com a ajuda da tecnologia atual, só acrescentou a toda a grandiosidade do momento; mas não ofuscou o brilho da cena de 1959 que foi muito bem orquestrada com tão poucos recursos. A refilmagem apenas exagera um pouco no CGI (Computer Graphic Imagery), o que torna a cena em determinados momentos muito artificial; porém essa é uma opinião pessoal minha.
A grande surpresa desse novo filme está em outra cena que ocorre no segundo ato. Judah Ben-Hur é forçado a remar junto com outros prisioneiros nas embarcações do império romano que adentravam os mares em batalhas. Eram os chamados galerianos. Em um determinado momento, outra embarcação se colide com a que está Judah e a cena é filmada apenas do ponto de vista daqueles escravos que estão no compartimento da embarcação. Toda a cena é muito tensa e bem dirigida.

Deixei por último para falar dos atores e da participação do brasileiro Rodrigo Santoro no filme. Jack Huston é quem interpreta Judah Ben-hur, enquanto o Messalah fica a cargo da atuação do ator Toby Kebbell. Ambos são praticamente desconhecidos do público brasileiro. Quem gosta de séries e acompanhou “Boardwalk Empire” vai se recordar de Jack, enquanto que Toby interpretou o doutor Destino na nova adaptação do “Quarteto Fantástico” que teve inúmeras críticas negativas, diga-se de passagem. Porém ambos conseguem entregar personagens interessantes e dão conta dos pesos que os papéis carregam. Assim como também é a atuação da atriz iraniana Nazanin Boniadi que interpreta Ester, a paixão de Judah.
O grande problema mesmo é a comparação com o seu antecessor. O filme de 1959 é muito mais envolvente e a empatia com os personagens é muito maior.

Morgan Freeman está bem caracterizado como o Sheik Ilderin. As estranhas tranças que parecem ter saído do set do “Predador” compõem bem o personagem que traz consigo uma certa repulsa e ganância. Nessa refilmagem, o sheik é quem resgata Judah e lhe convida para o desafio da corrida das bigas. No filme original, Judah salva a vida de um cônsul romano e o mesmo acaba vendo em Judah o filho que havia perdido e o adota, deixando toda a sua herança. Judah só vai se encontrar com o sheik após retornar para Jerusalém em busca do paradeiro da sua irmã e mãe. Essa parte da história eu senti falta no remake.
Já o brasileiro Rodrigo Santoro interpreta Jesus Cristo e possui sim um personagem importante para toda a trama, principalmente com o desfecho que ela vai nos apresentar no final; mas sua participação é pequena no filme. É interessante que no filme de 1959, o ator que interpreta Jesus Cristo nem é creditado, já que seu rosto em nenhum momento aparece, tão pouco também a sua voz é ouvida. Durante toda a projeção, Jesus aparece em pequenos momentos e apenas em detalhes.

A história de Cristo em “Ben-Hur” é contada em pequenos trechos paralelos a história da traição injusta sofrida por Judah. O livro de Lew Wallace consegue resgatar a história de Jesus no final e ambas as adaptações também o fazem, mas com desfechos um pouco diferentes.
Para quem assistiu ao filme de 1959 e sabe da importância e significado que teve para época e também para toda a história do cinema pode sair um tanto quanto desapontado após assistir a essa nova adaptação, tendo em vista que não há tanta profundidade das cenas e personagens, mas o resultado final me agradou e achei mais propício para a nossa época em que vivemos o desfecho dessa refilmagem.
Refilmagens são necessárias para que a história continue a ser contada e a história de Ben-hur, mesmo sendo fictícia, deve ser conhecida por essa nova geração, que talvez não teria tanta paciência em assistir a um filme antigo com quase quatro horas de duração.
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