"Aquarius" - Polêmicas a parte, um filme grandioso em todos os aspectos
- Rodrigo Fernandes
- 31 de ago. de 2016
- 4 min de leitura

Desde o gesto na escadaria do Festival de Cannes, na França, que “Aquarius” tem sido considerado o mais novo filme polêmico do Brasil. Polêmica essa que não está ligada diretamente a qualidade que o filme traz ao público, mas diante de uma divisão que a sociedade vive atualmente na política. Assista a coletiva de imprensa:
Assista a crítica do filme:
Sonia Braga interpreta Clara, uma mulher independente e guerreira. Escritora e jornalista aposentada que mora de frente do mar de Recife, no edifico “Aquarius”, um dos últimos imóveis de estilo antigo naquela região.
Diego, interpretado por Humberto Carrão, é neto do dono da imobiliária que pretende desapropriar o local aonde clara mora. Gosta de ser o centro da atenção, Diego retorna de um curso nos Estados unidos com “sangue nos olhos”, como ele mesmo diz diante desse primeiro projeto que tem em mãos. Só que para isso, ele terá de enfrentar a única moradora que resiste em sair do prédio, Clara, que viu gerações da sua família passar por aquele local.

Em uma atuação fantástica e brilhante, Sonia Braga revela o lado de uma mulher que não se deixa abalar pelas inúmeras situações desfavoráveis que a vida vai lhe proporcionando. Clara é um personagem emblemático e difícil de ser rotulado. Em determinados momentos parece que estamos diante de uma mulher apegada as coisas matérias e por outros momentos vemos uma mulher apaixonada e envolvida com sua família.
O filme possui um viés político muito forte. E acaba se firmando como uma janela real dos acontecimentos em que vivemos em sociedade, aonde a ambição pelo poder e pelo dinheiro se sobrepõem as tradições e valores.
O que aconteceu na ficção acontece diariamente na realidade. Inúmeras construtoras desabrigam famílias inteiras em nome da “modernidade” e do “progresso”.

Um filme humano, real e necessário para entendermos que nem sempre progresso é sinônimo de certo. O diretor e roteirista Kleber Mendonça Filho já nos incomodou, no bom sentido da palavra, com “O Som ao redor” e novamente traz para o centro das discussões, questões urbanistas graves com as quais o Brasil tem dificuldades em conserta-las ou simplesmente são ignoradas pelos políticos.
A história é muito bem contada, ao longo de suas mais de duas horas de projeção. Simpatizamos com a família de Clara já logo no começo da primeira cena ao nos depararmos com a Tia Lucia (Thaia Perez), que escondia segredos safadinhos da família e ia relembrando tais momentos enquanto seus netos falavam algo em sua homenagem. No aniversário da tia nada ortodoxa estava a jovem Clara (Barbara Colen) tocando piano e encantando a todos os presentes. Tal cena, logo no começo do filme, já nos mostra o quanto aquela família era importante e unida e tal desejo de união perpassa por gerações e chega a Clara já no auge dos seus mais de 60 anos de idade. Família é importante para Clara e preservar aquele patrimônio em que vive é preservar a história de sua família.
Não quero entrar no mérito político de toda a coisa e sim falar sobre o filme. Até porque esse não é um espaço para falar de política... Porém, é prudente esclarecermos uma coisa, independentemente se está apoiando esse ou outro governo, o filme é ótimo em sua fotografia, trilha sonora, roteiro, direção...

E sim, o filme mostra um pênis ereto e duas cenas de sexo anal... O argumento de que o filme não mostra cena de sexo explícito e que está sendo perseguido pelo posicionamento político, na minha opinião, é totalmente pífia. Insignificante. Muito mimimi. Existe sim cenas de sexo e nudez explícita e é totalmente correto desse fato ser avisado ao público que irá aos cinemas ver o filme. Por mais que “Bruna Surfistinha” tenha sido um filme com a conotação totalmente sexual, nenhum órgão genital é exposto da forma como foi exposto em “Aquarius”. O filme “Bruno Surfistinha” mereceria a classificação de 18 anos para que menos pessoas vissem esse desperdício de filme e dinheiro público, aí sim seria válido... mas, enfim, essa é uma opinião particular minha. Você que for assistir ao filme, tire suas próprias conclusões.
O filme é muito interesse em toda a sua condução. Desde deixar em aberto certas situações que mereceriam um aprofundamento maior; como no caso de um possível estupro sofrido por Clara em duas ocasiões; ou em se alongar por demais em diálogos e cenas que não interferem diretamente em toda a trama, creio eu que tudo isso de forma proposital.

É uma característica do diretor Kleber Mendonça em nos apresentar diálogos ríspidos e desconcertantes, fortes a ponto de questionarmos sobre nossas próprias certezas de valores. Isso está presente em seu filme anterior “O som ao redor” e continua em “Aquarius”.
A sonoplastia exagerada que foi facilmente identificada em “O Som ao redor” também está presente e chega até, em alguns momentos a incomodar.
Confesso que sai do cinema com a leve sensação de ter assistido a um filme premiado com o Oscar. Isso se ele, de fato, for o representante brasileiro na premiação.
O filme chega aos cinemas de todo o Brasil, a partir do dia 1º de Setembro.
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