Black Mirror - 3x04: "San Junipero"
- Rodrigo Fernandes
- 13 de nov. de 2016
- 3 min de leitura
Atenção: Contém Spoilers!

O episódio começa na década de 80, com as roupas e músicas características dessa época. Algo já totalmente incomum dos padrões anteriores que até agora vimos de "Black Mirror".
Somos apresentados a Yorkie (Mackenzie Davis), uma garota fora dos 'padrões' da época, com um suéter que parece que a própria avó fez e com óculos de armação grandes, ela entra em uma boate com pista de dança e jogos de fliperama em um canto. Sentada sozinha, ela observa Kelly (Gugu Mbatha-Raw) se aproximar ansiosa que pede para fingir ser sua amiga, com o intuito de se despistar de Wes (Gavin Stenhouse). A partir daí, uma amizade surge entre as duas e um romance parece começar a brotar, porém logo é interrompido pela insegurança de Kelly que acaba indo embora da festa.
No segundo encontro das duas na mesma boate, uma semana se passa e temos a primeira passagem de tempo; o encontro não acaba sendo favorável e uma nova semana surge com uma nova chance de Yorkie se encontrar com Kelly. Na tela preta, a mensagem de que uma semana novamente se passou; porém não estamos mais na década de 80.

Na vitrine da loja o modelo novo da TV dos anos 90... uma nova semana se passa e a mesma vitrine agora com um televisor passando os grandes hits do ano 2002. No topo da boate, um grande cartaz de cinemas indica que a atração é "Identidade Bourne" (2002), bem diferente do cartaz de "Os Garotos Perdidos" (1987) visto naquele mesmo local no começo do episódio... e isso tudo se passaram apenas algumas semanas, segundo anuncia o episódio.
Yorkie viaja no tempo para se encontrar com Kelly novamente e reparar o erro cometido de tê-la abandonado tão precocemente. Porém não se trata de viagens no tempo, mas algo muito mais complexo e interessante.
Ambas estão em uma realidade montada. "San Junipero" é um tempo imaginário criado para aqueles que decidem permanecerem vivas, mesmo depois de já terem morrido. A maioria das pessoas dessa realidade já estão mortas e fizeram essa opção. Kelly e Yorkie são chamadas de 'turistas', apenas vivendo algumas horas dessa realidade como forma de terapia, enquanto adoecem em asilos.

Quando Kelly pede para visitar Yorkie na vida 'real' (Annabel Davis), ficamos sabendo que a garota - já idosa - está em coma após um acidente de carro. Quando Kelly já bem mais velha do que sua versão em "San Junipero" aparece (Denise Burse), temos uma visão mais clara de toda a realidade de ambas.
Kelly não sabe quando irá morrer, o contrário está Yorkie que está prestes a fazer a passagem e viver eternamente em "San Junipero" em pouco tempo.

O episódio é, sem dúvida, o melhor de todas as temporadas da série, por tratar questões humanas delicadas, em meio a toda uma tecnologia que ao invés de ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas acaba apenas as prendendo em uma situação falsa de prazer.
"Black Mirror" já nos proporcionou grandes episódios, "White Bear" da segunda temporada e "Fifteen Million Merits" da primeira temporada são exemplos de como a série se supera e brilha com sua narrativa e críticas; porém, nada se compara a esse quarto episódio da terceira temporada. Não somente no clima nostálgico dos anos 80 e 90 durante todo o episódio, mas também a sua discussão atual sobre valores, família e eutanásia.
Fora isso, o final que pode desagradar a muitos, acaba se tornando extremamente ambíguo. Afinal de contas, a escolha por viver eternamente em uma realidade em que o ciclo não se desfaz, aonde não sentimos dor e tudo não é verdadeiro pode ser considerado um final feliz?
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